17 de mar. de 2010

O Riacho

Welser Minucci Guimarães
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No fundo da minha casa passava um pequeno riacho, quase um filete de água. Quando eu era pequeno gostava de jogar pedrinhas nele. Fazia isso todos os dias, mas os adultos não gostavam muito daquilo. Diziam que poderia acontecer isso ou aquilo com o riacho, mas nem eu e nem eles sabíamos para onde ia aquele fio d'água.

Notei que depois de tantas pedras jogadas uma pequena barragem se formou. Não era tão grande para estancá-lo, mas provocava um pequeno desvio. Achei o máximo, uma pequena obra de engenharia conseguida quase sem esforço. Resolvi continuar a empreitada, mesmo não sendo mais tão criança.

O tempo passou e o riachinho desviou um pouco, porém, mais a frente, insistia em seu curso. Até que um dia choveu, não muito, os raios cruzavam o céu de um lado ao outro e um deles caiu em uma árvore que ficava bem próxima da minha barragem. Parte dela caiu sobre o curso d'água enquanto a outra ardia em chamas.

No dia seguinte fui ver a barragem e levei um susto. O tronco caiu bem rente, abaixo da pilha de pedras que eu havia feito e o riacho teve o seu curso completamente modificado. Mudou tanto que ainda hoje tento ver o antigo leito do riacho, mas aquelas terras já se esqueceram que ali passou água um dia. Já tentei jogar pedras, colocar troncos, cavar saídas, tudo para retornar ao percurso original, mas de nada adiantou.

O filete de água vai continuar no seu novo curso.

De alguma forma, preparei o riacho para aquela mudança. Fazendo a barragem, ele começou a se acostumar com pequenos desvios, até que a natureza fizesse o que tinha de fazer. Quanto ao novo curso, não sei se é melhor ou pior que o antigo, e jamais saberei.
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Pensei em plantar umas árvores ao longo das margens, mas a lembrança do raio me fez mudar de idéia. Então plantei flores e um belo gramado que cuido com muito carinho.
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O Contextura tem me proporcionado muita coisa boa. Uma delas foi a aproximação, mesmo que virtual, do primo Welser, quem eu não via há muito tempo.
Vale dizer que ele é uma das pessoas que mais fazem comentários aos posts e também um dos responsáveis pelo Blog Transtorno Bipolar do Humor, aqui linkado.
Recebi dele o texto acima, o qual achei que tinha a cara do Blog Contextura e resolvi postá-lo, pois, com certeza irá valorizar este espaço.
Obrigado Welser!
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8 comentários:

Welser disse...

Fiquei emocionado com o seu comentário.
Muito Obrigado!
É muito bom estar vivo pra poder curtir momentos como este.
A Luz que traz consigo e o carinho com que cuidas deste gramado com belas flores são maior valor desse espaço.
Um abraço, meu primo!

Anônimo disse...

Agregando ao belo e reflexivo texto, lembrei da querida Martha Medeiros de quem sou fã e admiradora.

"Pode ter certeza de que o diferente teria sido melhor e teria sido pior. Então, o jeito é curtir nossas escolhas e abandoná-las se for preciso, mexer e remexer na nossa trajetória, alegrar-se e sofrer, acreditar e descrer, que lá adiante tudo se justificará, tudo dará certo. Algumas vidas até podem ser tristes, outras são desperdiçadas, mas, num sentido mais absoluto, não existe vida errada."

Luciana Leão

Ildeu Guimarãres Mendes disse...

Welser
Sem o apoio de vocês que passam por aqui, certamente não conseguiria levar esse projeto adiante.
Quanto a seu texto, faço minha as palavras da amiga Luciana, cuida-se de um “belo e reflexivo texto”
Foi muito bom ter te reencontrado.
Obrigado.

Ildeu Guimarãres Mendes disse...

Luciana
Durante esse tempo em que fiquei sem postar, o pior foi não contar com o carinho de pessoas como você.
Obrigado pela contribuição e continuo ávido aguardando seus comentários.
Abç.

Anônimo disse...

é com muito prazer que o faço.
Gosto muito!
Estarei sempre por aqui...

Luciana Leão

Ildeu Guimarãres Mendes disse...

Luciana
Obrigado pelo prestígio.
É muito bom receber sua visita e comentários.
Abç.

Anônimo disse...

"Quanto ao novo curso, não sei se é melhor ou pior que o antigo, e jamais saberei."

Anônimo disse...

"Quanto ao novo curso, não sei se é melhor ou pior que o antigo, e jamais saberei."