8 de dez. de 2009

NOSSA VIDA: UM PIQUENIQUE NUMA TARDE DE SOL

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A visão do budismo tibetano por Chagdud Tulku Rinpoche

Este corpo humano é um veículo raro, e nós precisamos usá-lo bem, sem demora. A finalidade mais elevada de um nascimento humano precioso é o progresso espiritual. Se não formos capazes de cobrir grandes distâncias, podemos ajudar os outros a progredir. Como o mínimo dos mínimos, não devemos fazer os outros sofrer.

É como se você tivesse tomado uma canoa emprestada para cruzar um rio, e em vez de usá-la de imediato, se delongasse, esquecendo-se de que ela não era sua e havia apenas sido cedida a você.
Se você não aproveitá-la enquanto a tem, nunca irá atravessar o rio, pois mais cedo ou mais tarde, a canoa emprestada será tomada de volta, e a oportunidade, perdida.

O nosso tempo de vida não é muito longo. É como um piquenique num Domingo à tarde. Só olhar o sol, ver as coisas crescerem, respirar o ar puro, já é uma alegria. Mas se tudo o que fazemos é ficar discutindo onde pôr a toalha, quem vai sentar em que canto, quem vai ficar com o peito ou a coxa do frango, que desperdício! Mais cedo ou mais tarde o tempo fecha, a tarde cai e o piquenique acaba. E tudo o que fizemos foi ficar discutindo e implicando uns com os outros. Pense em tudo que se perdeu.

Você pode estar se perguntando: se tudo é impermanente, se nada dura, como pode alguém viver feliz? É verdade que não podemos, de fato, agarrar e nos segurar às coisas, mas podemos usar esse conhecimento para olhar a vida de modo diferente, como uma oportunidade muito breve e rara.

Se trouxermos à nossa vida a maturidade de saber que tudo é impermanente, vamos observar que nossas experiências serão mais ricas, nossos relacionamentos mais sinceros, e que teremos maior apreciação por tudo aquilo que já desfrutamos.

Também seremos mais pacientes. Vamos compreender que, por pior que as coisas possam parecer no momento, as circunstâncias infelizes não podem durar. Teremos a sensação de que seremos capazes de suportá-las até que passem. E, com maior paciência seremos mais delicados com as pessoas à nossa volta. Não é tão difícil manifestar um gesto amoroso quando nos damos conta de que talvez nunca mais iremos ver uma tia-avó nossa. Por que não deixá-la feliz? Por que não dispor de tempo para ouvir todas aquelas histórias antigas?

Chegar à compreensão da impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes, nesta breve oportunidade que temos juntos constitui o começo da verdadeira prática espiritual. É esse tipo de sinceridade que catalisa a transformação em nossa mente e em nosso ser. Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais. Não precisamos sair de casa nem dormir numa cama de pedras. A prática espiritual não requer condições austeras – apenas um bom coração e a capacidade de compreender a impermanência.
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Se apenas exibirmos a nossa a nossa espiritualidade - queimando o incenso correto, sentado na postura correta, dizemos as palavras corretas - corremos o risco de nos tornamos mais orgulhosos, mais paternalistas, mais implicantes e donos da verdade. Esse tipo de falsa prática em nada ajuda a nós ou aos outros. O objetivo da prática espiritual não é fazer crescer os nossos defeitos. Buda ensinou 84.000 métodos para propiciar a transição de mente ordinária para a extraordinária - mas todos se resumem num ponto essencial: a bondade do coração.
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